Governo Trump encerra programa crucial na busca por uma vacina contra o HIV

O governo Trump deu um duro golpe nos esforços para desenvolvimento de vacinas contra o HIV, encerrando um programa de 258 milhões de dólares, cuja atuação era fundamental na busca por uma vacina.

“O consórcio para desenvolvimento de vacinas e imunologia contra HIV/AIDS foi revisado pela liderança do NIH, que decidiu não apoiar sua continuidade”, afirmou um alto funcionário da agência, que não estava autorizado a falar publicamente sobre o assunto e pediu anonimato.

“O NIH planeja direcionar seu foco para o uso de abordagens atualmente disponíveis para eliminar o HIV/AIDS”, acrescentou o funcionário.

O fim desse programa é o mais recente de uma série de cortes em iniciativas relacionadas ao HIV, especialmente na área de prevenção. Paralelamente, o NIH também suspendeu o financiamento de um ensaio clínico de uma vacina contra o HIV desenvolvida pela Moderna.

“Considero extremamente decepcionante que, neste momento crítico, o financiamento de programas altamente bem-sucedidos de pesquisa de vacinas contra o HIV seja retirado”, disse Dennis Burton, imunologista que liderava o programa no Scripps.

De acordo com especialistas em saúde pública, esses cortes vão comprometer os avanços conquistados com muito esforço no combate ao HIV nas últimas décadas.

Na semana passada, o governo também reteve verbas que deveriam ser repassadas a estados e territórios para ações de prevenção ao HIV. No Texas, o Departamento Estadual de Serviços de Saúde solicitou que os beneficiários interrompessem todas as atividades “até novo aviso”. No condado de Mecklenburg, na Carolina do Norte, o departamento de saúde já precisou demitir 10 funcionários.

Além disso, muitos países africanos relataram sérias interrupções em seus esforços para conter a epidemia.

“É simplesmente inconcebível o quão míope é essa decisão”, afirmou Mitchell Warren, diretor executivo da organização de prevenção ao HIV AVAC.

O número de novas infecções por HIV vinha caindo de forma constante desde 2010. Ainda assim, em 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou 1,3 milhão de novos casos, incluindo cerca de 120 mil crianças.

“A pandemia de HIV nunca será encerrada sem uma vacina, então encerrar pesquisas sobre isso acabará custando vidas”, declarou John Moore, pesquisador de HIV na Weill Cornell Medical, em Nova York.

“O investimento de vários anos do NIH em tecnologias avançadas de vacinas não deveria ser abandonado de forma tão arbitrária como está sendo”, acrescentou.

Durante seu primeiro mandato, o presidente Donald Trump apoiou iniciativas para acabar com a epidemia de HIV nos Estados Unidos. Porém, em seu segundo governo, houve cortes drásticos no apoio federal a esses esforços. O NIH cancelou diversos financiamentos relacionados ao PrEP — o regime de medicamentos preventivos altamente eficaz na prevenção da infecção pelo HIV.

O governo Trump também fechou a divisão de prevenção ao HIV dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), que repassava verbas a estados e territórios para ações de prevenção e para a detecção e resposta a surtos de HIV. Autoridades do Departamento de Saúde informaram que parte desse trabalho será transferida para a futura Administração Federal para uma América Saudável, que ainda não foi oficialmente criada, mas não forneceram detalhes.

Posteriormente, o Departamento de Estado emitiu autorizações especiais para que os tratamentos fossem retomados, mas não restaurou o financiamento para ações de prevenção do HIV.

Vários ensaios clínicos ao longo dos anos fracassaram na tentativa de produzir uma vacina contra o HIV, levando alguns especialistas a questionar se é possível, de fato, desenvolver uma vacina tradicional contra esse vírus tão complexo. As equipes do Scripps e da Duke adotaram uma abordagem diferente, estudando a resposta imune do corpo ao vírus.

Com financiamento garantido por concessões de sete anos, iniciadas em 2019, eles se concentraram nos chamados anticorpos amplamente neutralizantes, que demonstraram, em estudos com animais, oferecer proteção duradoura contra a exposição a múltiplas variantes do HIV.

Os ensaios clínicos baseados nesse trabalho podem continuar, desde que o financiamento da HIV Vaccine Trial Network pelo NIH seja mantido.

No entanto, encerrar os programas de pesquisa agora significa que, dentro de alguns anos, não haverá novos candidatos para testes clínicos, alertou Warren.

“Praticamente tudo nesse campo depende do trabalho que esses dois programas estão realizando”, afirmou. “O pipeline simplesmente ficou entupido.”

Esta reportagem foi originalmente publicada no The New York Times. Ela foi traduzida com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisada por nossa equipe editorial.Saiba mais em nossa Política de IA.